Através de 91 estampas e 11 objectos, acervo da Fundação Oriente nunca antes exposto, O Teatro Kabuki e a Estampa Japonesa destaca a fascinante relação entre estas duas artes, a xilogravura e o teatro popular japonês, desde a sua origem à ascensão do Kabuki ao estatuto de ícone cultural do Japão moderno.
Em exposição, estampas, trajes, adereços, fotografia e vídeo, dão vida ao universo visual e performativo do Kabuki e revelam um percurso que vai de meados do século XVIII ao início do século XX, uma era de revolução que assistiu ao fim do regime feudal, ao surgimento do Japão moderno e à transformação do Kabuki, de entretenimento barato para as massas, adorado mas banido pela sociedade respeitável, em orgulhoso símbolo de identidade nacional.
A Exposição
O Teatro Kabuki e a Estampa Japonesa abre com um convite à experiência do teatro: cenas de peças famosas projectadas em grande escala, enquadradas pela recriação de um palco tradicional com o seu passadiço hanamachi. Para introdução ao tema eixo da exposição, tradição e transição, comparam-se dois mapas da cidade de Tóquio em épocas diferentes: enquanto capital feudal, designada Edo, onde as autoridades samurai baniram o Kabuki para a periferia; e depois quando o novo governo Meiji moveu o Kabuki para um local de prestígio, próximo dos centros de poder político e financeiro.
A partir daqui, a exposição mostra o Kabuki dentro e fora do palco, da preparação dos actores à sua crescente popularidade e a função da xilogravura neste processo. O percurso começa com a maqueta de um palco, uma típica refeição no teatro, instrumentos musicais, e a transformação dos actores nos seus papéis, ilustrada por cartazes, trajes, perucas e outros adereços. Em seguida, explora-se a função promocional das estampas com um vídeo sobre o seu processo de fabrico e uma animação que identifica estampas com retratos de celebridades e de grandes clãs teatrais, cuja reputação cimentaram ao longo de gerações. Centrando-se agora no palco, a exposição apresenta cenas de peças famosas, extraídas da literatura popular e erudita, ou inspiradas na história, mitologia, na vida quotidiana, de acordo com o ciclo sazonal anual. Uma selecção de estampas raras dá a conhecer as particularidades da cultura teatral de Osaca, segunda grande cidade do Kabuki. A exposição termina com estampas do período pós-revolução Meiji, revelando como a tradição teatral abraçou experimentações criativas, novos temas e perspectivas, inspiradas na liberdade e modernização da sociedade, seus dilemas e oportunidades.
Comissária | Beatriz Dantas
Conselheira Científica I Hannah L. Sigur
Beatriz Quintais Dantas Licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, e mestre em História da Arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com uma dissertação sobre a xilogravura japonesa ukiyo-e na coleção do Museu Calouste Gulbenkian. Entre 2022 e 2024 foi bolseira da Fundação Oriente com um projecto de investigação e inventário das estampas japonesas do acervo do Museu do Oriente, do qual resultou a exposição O Teatro Kabuki e a Estampa Japonesa: Tradição e Transição patente nesta instituição. O entusiamo pelo tema da xilogravura japonesa levou-a ao Doutoramento em História da Arte (NOVA FCSH) para desenvolver o tema O Colecionismo de Estampas e Livros Japoneses Ukiyo-e em Portugal. Este projecto é apoiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Hannah L. Sigur Com residências no Leste e Sudeste Asiático e um doutoramento pelo Institute of Fine Arts da New York University, Hannah Sigur ensinou e escreveu sobre as artes tradicionais do Japão e do Leste Asiático em universidades na Califórnia, EUA, e é Editora Contribuinte do Smarthistory.org. Ela pesquisa a cultura material do internacionalismo no Japão Meiji e na Era Dourada dos EUA. O livro The Influence of Japanese Art on Design (Gibbs Smith, 2008) examina o Japonismo, o movimento Arts & Crafts, a Art Nouveau e o design Moderno antes da Primeira Guerra Mundial. Sobre a arquitetura da identidade nacional em exposições internacionais de 1867 a 1915, o seu ensaio sobre a icónica White City, da Feira Mundial de Chicago de 1893, aparece em What Happened? An Encyclopedia of Events that Changed America Forever, Vol. III (ABC-Cleo, 2010), enquanto “Neoclassicism in Translation: Japan’s Hôôden at the World’s Columbian International Exposition, 1893” é publicado em Expanding Nationalisms at World’s Fairs: Identity, Diversity and Exchange 1855 – 1914 (Routledge, 2017).