Charulata (120’) às 15h
Nayak (O Herói) (117’) às 18h
Sessões apresentadas pela Professora Rosa Maria Perez
A exposição Foto Arte Ganesh encerra celebrando o olhar como instrumento de memória e revelação. No dia 27 de Dezembro, no Museu do Oriente, às 15:00 e às 18:00 horas, serão apresentados dois filmes icónicos de Satyajit Ray, Charulata e Nayak. Ray foi, sem dúvida, um dos maiores cineastas do século XX, nascido em Calcutá, na Índia, e reconhecido mundialmente pela sua genialidade artística e pelo humanismo profundo, pelo uso de diferentes técnicas visuais que conferiam uma profundidade emocional e estética singular aos seus filmes.
Charulata [1964], um dos filmes mais sofisticados de Ray, mergulha na solidão e nos desejos de uma mulher culta na Calcutá do século XIX. Com uma realização delicada e subtil, Ray explora o universo interior da protagonista, oferecendo uma reflexão intemporal sobre liberdade e os limites impostos pela sociedade O filme traça, com grande sensibilidade, a tensão entre o isolamento e o desejo de emancipação, traduzindo os conflitos íntimos que emergem do confronto entre o peso do conservadorismo e o ímpeto das emoções individuais. Charulata erige-se, assim, como uma das mais elegantes e introspectivas análises sobre o amor, a solidão e a transformação pessoal num tempo de transição.
Os longos planos fixos — marca estilística de Ray — captam a continuidade silenciosa da vida doméstica e a respiração do ambiente, criando uma experiência de realismo e imersão que aproxima o espectador das fragilidades e da profundidade emocional da personagem.
Ficha Técnica:
Argumento e Realização - Satyajit Ray
Director de Fotografia - Subrata Mitra
Montagem - Dulal Dutta
Música - Satyajit Ray
Produção - R.D. Bansal
Distribuição - Leopardo Filmes
Em Nayak [1966], Satyajit Ray convida-nos a penetrar no labirinto interior do herói moderno — um actor consagrado cuja existência glamorosa encobre abismos de inquietação e dúvida. Ao longo de uma viagem de comboio que se transforma em metáfora do próprio curso da vida, desenrola-se um confronto entre a grandiosidade da imagem pública e a vulnerabilidade da identidade íntima.
Centrado em dilemas éticos, pressões sociais e no doloroso processo de autoconhecimento, Nayak expõe a fragilidade humana por trás do sucesso. A narrativa torna-se, assim, uma reflexão penetrante sobre o êxito, a autenticidade e a responsabilidade moral— um retrato das contradições que moldam o indivíduo moderno perante a sociedade.
Os close-ups — especialmente sobre o rosto e o olhar do protagonista — expressam emoções internas sem diálogo explícito, uma técnica recorrente de Ray, subtilmente explorada em Nayak.
A exibição destes filmes confirma e amplia o diálogo estabelecido na exposição entre fotografia e filme, em que cada enquadramento revela fragmentos de memória, iluminando as múltiplas dimensões da experiência humana e enriquecendo a reflexão proposta por Foto Arte Ganesh.
Rosa Maria Perez
Ficha Técnica:
Argumento e Realização - Satyajit Ray
Director de Fotografia - Subrata Mitra
Montagem - Dulal Dutta
Música - Satyajit Ray
Produção - R.D. Bansal
Distribuição - Leopardo Filmes
Para além de um dos nomes incontornáveis do cinema indiano, um dos maiores cineastas da História do Cinema. Natural de Calcutá, Satyajit Ray realizou quase quatro dezenas de obras, entre ficção, documentário e curtas-metragens. O seu primeiro filme, “Pather Panchali”, venceu dezenas de prémios internacionais, um reconhecimento que se prolongou ao longo da sua vida e obra com selecções e prémios em alguns dos mais importantes Festivais de Cinema do mundo, incluindo Berlim, Cannes e Veneza. Em 1992 venceu um Oscar honorário entregue pela Academia de Cinema dos Estados Unidos da América.